Sem DPVAT, Acre gastou mais de R$ 2 milhões com vítimas de trânsito em 2024
31/07/2025
(Foto: Reprodução) No Acre, acidentes de trânsito custam mais de R$ 2 milhões ao SUS
Lucas Thadeu/Rede Amazônica Acre
O Acre gastou mais de R$ 2 milhões com vítimas de trânsito em 2024, segundo um levantamento inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos dados do Datasus, cedido ao g1.
🔎 O valor inclui desde atendimentos de emergência até reabilitação prolongada e fornecimento de órteses e próteses.
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O índice representa o quarto maior montante da região Norte, atrás de Pará, Tocantins e Rondônia. No ranking nacional, o estado ficou na 24ª colocação.
Segundo especialistas, os fatores que pressionam o orçamento da saúde pública em todo o país em relação a acidentes de trânsito são o fim do seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e a necessidade de prevenção. (Entenda mais abaixo)
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Com a extinção do seguro DPVAT, utilizado para indenizar vítimas de acidentes de trânsito, o Sistema Único de Saúde (SUS) deixou de receber em média, desde 2021, cerca de R$ 580 milhões por ano.
Outro levantamento, feito pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-AC), mostra que foram registrados 4.442 acidentes em 2024, o que dá uma taxa de 57,33 ocorrências a cada 10 mil veículos. Desses, 120 tiveram vítimas fatais.
Infográfico dos gastos do SUS por estado com acidente de trânsito
Artes/g1
Extinção do DPVAT
Com a extinção do seguro DPVAT, utilizado para indenizar vítimas de acidentes de trânsito, o Sistema Único de Saúde deixou de receber em média, desde 2021, cerca de R$ 580 milhões por ano.
Até então, 45% do valor arrecadado com o seguro — cobrado no licenciamento anual de veículos — era destinado ao SUS para custear a assistência médico-hospitalar das vítimas de sinistros em todo o país.
➡️ A suspensão do DPVAT foi autorizada em 2021 pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), sob a justificativa oficial de “potencial de evitar fraudes no DPVAT, bem como amenizar/extinguir os elevados custos de supervisão e de regulação do DPVAT por parte do setor público”.
Para substituí-lo, o governo federal propôs em 2024 a criação do SPVAT (Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito), mas diante da pressão de governadores e do Congresso contra a criação de um novo encargo obrigatório para motoristas, o governo voltou atrás e revogou a nova lei antes mesmo de ela entrar em vigor.
“Isso prejudica os atendimentos hospitalares e deveria ser revisto”, afirma Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, pesquisador do Ipea.
O g1 levantou os valores do seguro, entre 2011 a 2020, e de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o SUS recebeu mais de R$ 5,8 bilhões por meio dessa arrecadação naquele período. Veja quanto foi repassado a cada ano:
2020: R$ 595.049.245,00
2019: R$ 403.841.961,45
2018: R$ 651.351.247,20
2017: R$ 768.278.281,95
2016: R$ 769.833.576,45
2015: R$ 1.124.124.282,90
2014: R$ 1.352.201.278,50
2013: R$ 116.989.192,35
2012: R$ 9.333.085,05
2011: R$ 9.159.906,75
Quanto custa não prevenir?
A Organização Pan-Americana da Saúde estima que os sinistros de trânsito consomem entre 1% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países da América Latina. No caso do Brasil, isso representaria entre R$ 117 bilhões e R$ 351 bilhões por ano, considerando o PIB de R$ 11,7 trilhões em 2024.
“O investimento na prevenção sempre é menor do que o estrago que você tem, do impacto que você tem em várias dimensões — não só de saúde, mas previdenciária. [...] Eu penso em termos de previdência social. Você pegou o pai de família, que era o sustento da família ali — ele deixa de ser um provedor e passa a ser um custo, e um custo alto”, aponta Pavarino.
Gastos com acidentes cresceram 49% em 27 anos
Desde 1998, os gastos hospitalares com sinistros de trânsito no Brasil formaram uma curva de crescimento quase constante ao longo de 27 anos. Em 1998, o SUS desembolsou R$ 301,7 milhões com internações decorrentes de acidentes de transporte. Em 2024, o valor chegou a R$ 449,8 milhões — um aumento real de aproximadamente 49%.
Veja o gráfico ano a ano:
Infográfico dos gastos do SUS com acidentes de trânsito no Brasil
Artes/g1
O maior salto aconteceu entre 2008 e 2009, quando os gastos saíram de R$ 280 milhões para R$ 386 milhões — um aumento de R$ 105 milhões em apenas um ano. Embora os valores tenham continuado subindo até 2014, esse foi o momento de crescimento mais abrupto em toda a série.
Posteriormente, mesmo durante os anos mais críticos da pandemia de Covid-19, quando houve redução no fluxo de veículos, os gastos com sinistros não caíram de forma significativa. Em 2020, o valor foi de R$ 404,9 milhões — apenas 15,8% abaixo do pico de 2014.
VÍDEOS: g1